quinta-feira, 17 de março de 2011

A igreja evangélica está crescendo em qualidade ou em quantidade?


Estamos em 2011, primeiro ano da segunda década do terceiro milênio. A situação da igreja evangélica brasileira tem sido considerada a melhor da História. Raramente somos vistos como fanáticos e loucos, como antigamente. É claro que há exceções, pois acabei de ler no Diário de Pernambuco de hoje a opinião de um leitor que chama os evangélicos de “Exércitos de alienados e fanáticos” (página B5). Na verdade, o grande crescimento numérico da igreja evangélica causa inveja aos líderes e membros das religiões instaladas no país.


Evangélicos entusiásticos proclamam: “Em breve, o Brasil será predominantemente evangélico”. Mas eu prefiro ser mais realista do que triunfalista. Afinal, poucos líderes, em meio à euforia, percebem o número crescente de evangélicos que constam das estatísticas, mas nunca viveram um cristianismo genuinamente bíblico. Ser cristão, hoje, é ter privilégios e direitos; é ser senhor, e não servo; é encarar a obediência como uma virtude descartável.


Em 1994 (faz tempo!), fiquei preocupado com a seguinte notícia, publicada na Veja: “Está surgindo no país uma versão moderna, mais liberal e classe média do crente tradicional [...]; esse novo evangélico é da pesada [...]”. Infelizmente, o modelo revolucionário deste novo milênio (que imita padrões mundanos) incorporou-se de tal modo a tantas igrejas tradicionais, que consideramos extraterrestres os pastores e pregadores que ainda se preocupam com essas questões “secundárias”.


Temos valorizado extremamente a contextualização do Evangelho. Agimos como se fosse imperioso aculturar a nossa mensagem. Tudo o que é cultural precisa estar dentro dos templos. “O mundo mudou”, dizemos. “Devemos adaptar a mensagem do Evangelho à presente realidade. Temos de ser parecidos com as pessoas do mundo, se quisermos alcançá-las para Cristo”. Esse argumento é baseado na interpretação forçada de 1 Coríntios 9.22, um vez que, para evoluir em algumas áreas, não precisamos gerar “aberturas” doutrinárias (Mt 7.13,14). Afinal, é o Evangelho que muda culturas, ou estas que mudam aquele?


Não me considero velho. Mas observo que estamos priorizando o jovem, em detrimento de outros públicos. Na década de 1960, Pete Townshend disse: “Espero morrer antes de ficar velho”. Lamentavelmente, esse sentimento prevalece no meio evangélico. Sabemos que é necessário atrair os jovens e adolescentes para o caminho do Senhor. Mas, e os velhos? E as crianças? Todas as pessoas são almas preciosas para Deus. O Evangelho deve atingir a todos, e não somente a juventude.

Quanto mais nos igualarmos aos incrédulos, tanto mais será difícil os evangelizarmos. Não havendo identidade, nos tornamos imperceptíveis (Mt 5.13-16; Fp 2.5), passando de influentes a influenciados. Comunicar o Evangelho da forma como as pessoas desejam ouvi-lo não resultará em nada. Mas transmiti-lo da maneira como elas precisam ouvi-lo as levará à compunção (At 2.37,38).


Seguir a Jesus não é apenas deter o título de cristão (Lc 9.23). Quando o Senhor chamou seus discípulos, disse a cada um: “Segue-me” (Mt 8.22; Lc 5.27; 9.59; Jo 1.43), pois Ele não queria ter fãs. Mesmo assim, muitos o seguiam por admiração ou interesse. Sabiam que Ele podia transformar água em vinho (Jo 2.1-12), fazer paralíticos andar (Jo 5.1-15) e multiplicar pães (Jo 6.1-15). Mas, depois de ouvirem o seu “duro discurso”, descobriram o que significava segui-lo e o abandonaram (Jo 6.22-71). E nós, temos andado como Jesus andou (1 Jo 2.6), ou somos apenas seus fãs?


Também me preocupo com a linguagem que temos adotado. Fazemos pouco caso da Bíblia, que nos ensina a ter uma “Linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2.8). Em Efésios 4.29, há também uma importante advertência: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe [imoral, obscena, vil], mas só a que for boa para promover a edificação”. Mas, às vezes, pronunciamos impropérios até em cima do púlpito!


A frase “É proibido proibir”, empregada em 1968 por jovens hippies, que lutavam por liberação sexual e uso de drogas, vem sendo repetida em nossas igrejas! É verdade que Paulo reprovou proibições inúteis, legalistas, provenientes da mente humana (Cl 2.20-22), mas não podemos negar que o Novo Testamento está repleto de sérias proibições (Mt 6-7; Rm 13.9; 1 Co 6.10; Tg 5.12; Gl 5.17-21), para as quais devemos atentar.


Gostamos de música pesada e shows. A música secular, erotizante, entrou com facilidade em nossos templos, e vemos isso como um grande progresso. Algumas canções ditas cristãs sequer mencionam o nome de Jesus, e outras, não bastasse isso, possuem letras do tipo “quero sentir você me tocar”, reforçadas por melodias voluptuosas. Com a ascensão da chamada música gospel, o exibicionismo entrou em cena. Nossos púlpitos viraram palcos, e os cantores passaram a ser vistos como astros.


Mas não estou desanimado. Ainda creio que podemos nos unir em torno do Evangelho da cruz, em prol de uma igreja cheia do Espírito, avivada, perseverante na sã doutrina e mantenedora dos princípios verdadeiramente cristãos. Ou será que já nos conformamos com este mundo?


Ciro Sanches Zibordi


FONTE: Blog do Autor

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