quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sociólogo afirma que o crescimento do protestantismo tende a se estabilizar

Paul Charles

Nas próximas décadas, o crescimento do protestantismo na América Latina vai se estabilizar, alcançando um patamar de 20% a 35% da população. Dificilmente o protestantismo vai chegar a ser maioria em algum país da região. “As relações entre católicos e protestantes serão bem diferentes e, além disso, teremos um setor razoavelmente grande de pessoas adeptas a outras religiões ou “sem religião”. Essa situação pluralista vai ser mais difusa e não vai haver uma protestantização”, acrescentou Paul.

Esta análise do sociólogo Paul Charles Freston foi dada em uma entrevista ao Instituto Humanistas (IHU). Durante a conversa o sociólogo previu um quadro evangélico totalmente transformado no Brasil. “Não vai haver o mesmo triunfalismo e o mesmo jeito aguerrido. Vão ser produzidos outros tipos de líderes, outras relações entre as diferentes religiões e com a política”, prognosticou.

Ainda segundo Paul, a Igreja Católica também vai se estabilizar, isso porque terá que se adaptar a um novo quadro político social, marcado pela democracia e o pluralismo religioso. “É difícil manter a hegemonia na sociedade civil porque ela é cada vez mais independente, autônoma e plural. Assim, as ditaduras, mesmo aquelas que perseguiram a igreja (Católica), eram situações mais favoráveis para a manutenção da posição social da Igreja”, que serviu, muitas vezes, de guarda-chuva a grupos da oposição ao regime militar, analisou o professor da Universidade Federal de São Carlos, São Paulo.

A cada ano, de acordo com que mostram os censos brasileiros, a Igreja Católica perde cerca de 1% de seus fiéis. Mas essa perda da adesão nominal também tem seus aspectos positivos. Cada vez mais, a religião torna-se uma escolha no Brasil e não é mais simplesmente uma religião de herança cultural, de pai para filho. Quando a Igreja Católica estabilizar, seus fiéis serão, certamente mais praticantes, identificados e compromissados, não mais nominais apenas. “O catolicismo, então, vai se tornando, cada vez mais, uma religião de escolha no Brasil e não mais uma religião simplesmente herdada culturalmente. O sentido de ser católico, portanto, vai mudando”, afirma.

Além do declínio numérico, o peso histórico da Igreja Católica em cada país da América Latina também sofrerá mudanças, relacionadas ao quadro de fiéis. Quando cai a representatividade numérica em relação ao todo da população, torna-se mais difícil justificar certos privilégios. “A ideia de igreja é de algo que se confunde com a nacionalidade e reivindica um certo status preferencial dentro da sociedade. É isso que está cada vez mais ameaçado”, concluiu Freston.

Paul Charles Freston nasceu na Inglaterra e é brasileiro naturalizado. Graduou-se em História e Antropologia Social pela University of Cambridge (Inglaterra) e fez mestrado em Latin American Studies pela University of Liverpool. Também é mestre em Christian Studies pela Regent College. Já no Brasil, fez doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. Recebeu o título de pós-doutor pela University of Oxford. Atualmente, é pesquisador sênior da Baylor University (EUA) e professor na Universidade Federal de São Carlos (SP).

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