Ser pregador de verdade não é nada fácil, sobretudo nesses últimos dias em que a pregação deixou de ser uma simples exposição da Palavra de Deus. Para agradar, o pregador deve ser espetacular, literalmente. Versátil, precisa “cativar a plateia”, “ganhar o público”, “dominar o auditório”, como se estivesse em uma apresentação de stand-up comedy.
A definição de pregação no Novo Testamento é simples: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (1 Co 2.4,5). Isso denota que o melhor pregador é aquele que apenas expõe as Escrituras, confiando que o Espírito Santo fará a parte que lhe cabe.
Neste novo milênio, para tristeza do Espírito Santo, não é nenhum absurdo pertencer a uma agência de pregadores — os quais são, na verdade, em sua maioria, animadores de auditório, humoristas, milagreiros, etc. Eu mesmo já recebi convites para ingressar em uma dessas agências, sobretudo através das redes sociais. Mas, quando comecei a pregar, na segunda metade da década de 1980, fiquei surpreso, ao ser abordado num púlpito, em São Paulo.
— O irmão gostaria de fazer parte de nossa agência nacional de pregadores? — perguntou-me um pastor, após uma pregação.
— Como ela funciona? — perguntei-lhe, nitidamente surpreso.
— As igrejas ligam para nós. Elas é que definem como deve ser o pregador para o seu evento: brincalhão, sisudo, etc. Até o tipo de mensagem eles determinam. E nós cuidamos de tudo. Enviamos o pregador certo e negociamos um bom cachê.
O que era, para mim, uma aberração, naquela época, tornou-se comum e corriqueiro, em nossos dias. Por isso, ser pregador, hoje, não basta. É preciso atender às preferências do povo. É necessário chamar mais a atenção para si do que para a própria mensagem. Já ouvi até irmãos conversando e dizendo: “Fulano é um ótimo pregador, mas não é pregador de congresso” ou “Fulano tem muito conhecimento, mas não gosta do reteté”.
Hoje, o pregador, para agradar, tem de ser um show-man. Expor as Escrituras com graça de Deus não é mais suficiente. Não se confia mais que o Espírito Santo age em conexão com uma simples exposição bíblica, como acontecia nos tempos da igreja primitiva (cf. At 1.2,16; 2.16; 4.31, etc.). O pregador de hoje tem de “fazer chover”, provocar o auditório, mandar um irmão beliscar o outro, apertar a sua mão até que ele diga “Aleluia”, etc.
Povo de Deus, pastores, pregadores, será que precisamos mesmo ser artistas, vestirmo-nos como astros e sermos hábeis em agradar um público que supervaloriza o carisma, em detrimento do caráter? É isso mesmo que o Senhor quer ver em nós? Não! Precisamos voltar a priorizar a simples exposição da Palavra de Deus (1 Ts 1.5).
Ciro Sanches Zibordi
FONTE: Blog do autor.
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